segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Aniversário

Hoje eu e a Ana completamos 1 mês em Sevilla. Bom, não exatamente. Na verdade, hoje faz 1 mês que deixamos o Brasil... muita coisa aconteceu desde então, mas não tivemos tempo (nem inspiração) para escrever novamente.

Aqui em Sevilla, Ana e eu fomos a faculdade hoje, ver se conseguíamos finalmente conversar com o Francisco, o responsável por intercambistas não-europeus (os europeus são os “Erasmus”). Ele não estava lá, o que é sinal do feriado que se comemora amanhã aqui e em todo país: la Fiesta Nacional de España. Fomos procurar porque eles comemoram esse dia aqui e, se a Wikipedia estiver certa, é a celebração do descobrimento da América, a colonização europeia no enorme continente americano. Nem vamos comentar isso.

O que tá pegando mesmo é que daqui a pouco no Brasil, Pixies e Queens of the Stone Age se apresentam no festival SWU em Itu, no interior de São Paulo, e nós estamos aqui na España sem poder ver isso. Hoje de manhã achei que rolaria uma transmissão ao vivo da Multishow pela internet, mas depois vi que era só na televisão. Frustração. Estamos aqui ouvindo Pixies, daqui a pouco já é madrugada e aí no Brasil tá entardecendo.

O que mais gostamos aqui em Sevilla é a variedade de árvores frutíferas. Todos os dias faremos suco natural, à escolha: limão ou laranja! É incrível, tem muitas árvores, mas ninguém pega e ainda olham feio quando tentamos alcançar o topo e colher mais. Talvez estejamos destoando da elite europeia, principalmente quando encontramos vestidos em perfeito estado e um ursinho de pelúcia ainda cheiroso no lixo. Nós pegamos mesmo, vida sustentável tá na moda.

Aliás, por falar em meio-ambiente, nos entristece um pouco a quantidade de plásticos, panos, latas e todo o tipo de material jogado nas ruas. É muito mais fácil ser ecologicamente correto nesse país, em toda esquina se vê uma lata de lixo, há separação de lixo em cada quadra. Porém, contudo, todavianoentanto: o povo não está nem aí.

Mudando de assunto, e para melhor, eu diria: as viagens que fizemos. Resolvemos aproveitar o litoral andaluz e as horinhas de sol que nos resta na Europa e escolhemos dois destinos muito especiais: Cádiz e Tarifa. O primeiro: paisagem linda (embora um pouco suja), catedrais emblemáticas, típicas da Espanha. O lugar que mais gostamos por lá foi o “Parque Genovés”, fundado em meados do século XIX, o parque conserva fontes glamourosas, uma reprodução fiel de dinossauros, crocodilos, répteis e cavernas da pré-história, além de parques para crianças e um aconchegante café-bar, com direito a “montaditos”, “tapas”, etc, coisas pra comer acompanhado de uma “cerveza” – gastronomia cara e matadoura, que só se vê por aqui.

O segundo, Tarifa, foi um destino absolutamente deslumbrante. O fato de estarmos de frente à África, e, de quebra, nadarmos no histórico Mar Mediterrâneo, já apimentou o rolê. Encontramos um restaurante muito legal, com um espaço zen, uma coisa bem yoga. Opções vegetarianas e veganas. Comemos uma pizza muito gostosa. Na volta pra casa, encontramos um parque com umas plantas legais, flores diferentes e uma árvore lotada de pombos brancos (ou algum pássaro com cara de pombo) tirando um cochilo. Já era tarde da noite e várias pessoas na rua de rolê, como em Sevilla. O melhor: acompanhadas de seus perros encantadores. De todos os tipos e tamanhos.

Os cachorros são muito companheiros dos donos. Vão a todos os lugares, até bares e restaurantes. Muitos andam sem coleira. Vão à praia, desrespeitando as plaquinhas de proibido. E, claro, cagam por tudo quanto é canto. Nem todo mundo limpa, e é preciso prestar muita atenção pra não pisar num cocô. Mas eles são umas gracinhas que embelezam os lugares. Já os donos, não são muito simpáticos.

Os espanhóis em geral deixaram a desejar na simpatia. “Mais uma vez tirada” e “não aguento mais levar patadas” foram frases recorrentes. Pra compensar, encontramos pessoas muito legais. O espanhol que mora aqui em casa é um exemplo (que bom, ser tirada na sua própria casa é demais). O “RRosé” - que me apresentou como “RRoana” pra namorada dele! - é um cara muito tranquilo e gentil. A espanhola que tá pra se mudar parece gente fina também.

Ficamos por aqui tentando ouvir o festival pelo site da Oi. Por enquanto, só alguns flashes. Ou a transmissão é ruim ou a Espanha fica mesmo muito longe do Brasil. Esperamos conseguir pegar algum “concierto” por aqui, que não seja “Ú Dos” (vulgo U2).

Resumir cada impressão é uma tarefa difícil, por linhas cansadas de serem lidas (sabemos), encerramos aqui. Até a próxima inspiração tardia!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Adiós, Brasil!

Depois de muito matutar, pensar, esperar luzes no meio do banho, preencher o tempo da madrugada de insônia e discutir sobre isso em momentos de ócio intenso, chegamos à conclusão (eu e Renata) de que não sabemos de um nome bonito, pomposo e que ilustre com precisão, clareza e criatividade esse momento que estamos passando juntas, aqui em Sevilha.
Para cumprir com o compromisso de postagens regulares e começarmos o quanto antes a escrever, mantivemos o diretodesevilla.blogspot.com para contarmos peripécias, aventuras culturais e perrengues pessoais (why not). Dando continuidade ao surto criativo imprescindível e impressionante, chamo esse primeiro texto de “primeiro post” (ironia mode on). Não vou me alongar muito (sempre digo isso e vou parar lá embaixo em 1 segundo, mas vamos lá).
Nosso trajeto se iniciou no dia 11 de setembro, quando, depois de muito procurar, encontrei a Renata caminhando com seu carrinho de bagagens pelo aeroporto de Cumbica. Embarcamos pela companhia TAP, “xcolha’nfelix” (em purtugueix de purtugaul), diga-se de passagem. Isso porque, ao invés de chegarmos por volta das 11 da manhã em Sevilha (como previsto), chegamos por volta das 11 da noite.
Resumo da primeira fila [no aeroporto de Lisboa]: - “preciso ir ao banheiro” - fila pra ver passaporte - “olha a família gringa ali atrás, que engraçada” - “quanto tempo faz que estamos nessa fila?” - “Ah, 1 hora já, já perdemos o próximo pra Sevilha” - “queria um pouco de água” - “olha, aquela fila é mais rápida” - “aqui é classe econômica bein, brasileiro ralé” - “daria um rim por um copo d’água” - “e eu ainda preciso ir no banheiro” -“olha a cara daquele português – muito Manuel!” –“passagem, visto, remarcado” – “16 euros cada uma pra almoçar?” – “nossa, queria dormir” – “nossa, to MUITO cansada”.
Resumo da segunda fila [no aeroporto de Lisboa]: “Olha, aqui só tem africano” –“Cabo Verde, Moçambique, Guiné Bissau, todo mundo fala português, que estranho” – “Olha as negras, que roots! Cabelos de dread e unhas cintilante” – “Nossa, estou caindo de sono!” -“Passaporte, por favor?”.
Depois da segunda fila, fomos nos arrastando de cansaço pelo caminho da comida. Nem tínhamos força pra mastigar. Sentadas, com a desejada garrafa d’água na mão, assistimos a um mini-punk rocker português derrubar todo o saco de confetes no chão. “Quer um meu, pega aqui! Olé, olé!” – a irmã malvada repetia.
Depois de dois pãezinhos e uma cerveja, decidimos pelo prático Mc Donald’s. Sopa de espinafre, no Mc Donald’s, sim isso mesmo. E o espinafre parecia mesmo de verdade. Além disso, pedimos batatas, dois cafés (sem leite “meio gordo” (o semidesnatado português)), e um exagerado sundae que acabou ficando na mesa pra quem quisesse pegar. Eu super comeria ele agora.
Horas de cansaço, tour por banheiros podres, e barriga mais que cheia, embarcamos para Barcelona. Sim, graças aos nossos queridos colonizadores tivemos que subir pra depois descer na Espanha. Ê Manuel.
Enfim, o aeroporto em Barcelona é muito bonito, fingíamos que tínhamos super-poderes e passávamos sempre pelo “chão rolante” (bem parecido com aquele do Confiança Flex de Bauru, mas mais patrão, obviamente). Observamos a conversa forçada de uma loira americana com a sua ‘hijita’. “Did you make another friend? Sweetheart? Ooooh, mommy misses you too, but, i’m coming, i’m coming, apple pie, that’s okay. Have you had dinner? No? Take a shower and then have dinner, okay? Mommy loves you, darling”.
E assim; horas cansativas e preenchidas com um misto de estresse, saudade, ansiedade e felicidade; pegamos o vôo pra Sevilha, de primeira classe, como merecemos, com direito a gazpacho (uma bebida bem útil pra se colocar em cima do macarrão e bem ruinzinha pra beber, diga-se de passagem), espanhol bonitão de comissário de bordo, e um jornal local.
Falei que chegaria no finzinho da página facilmente! Já até mudou e eu nem percebi... Vou acabar por aqui. “E isso é só um dia de viagem, oloco”. O comentário instantâneo da Renata.